
Uma reflexão transformadora
Uma vez perguntaram a um grande cientista: “Você acredita em Deus?”. Parece óbvio, que o jornalista que estava perguntando era um ateu; ele não acreditava em Deus e, não podia conceber que um homem de tamanho calibre, um grande cientista – dissesse que acreditava em Deus. Porém, o cientista disse que acreditava; o jornalista ficara chocado e, lhe perguntou novamente: “Você um grande cientista, mesmo assim, ainda acredita em Deus?" E o cientista respondeu-lhe: “Fui programado, não se trata de acreditar ou não acreditar. Fui programado desde minha infância de que Deus existe. Isso foi dito tão constantemente pelos meus pais, sacerdotes, professores, ou seja, em todos os lugares; que isso se tornou quase como se eu soubesse que ele existe. Mas isso é apenas um condicionamento”.
Todas as religiões dependem de programação, sem saberem exatamente o que ela é. A palavra é nova no mundo dos psicólogos, parapsicólogos, teólogos, etc; mas, as atividades feitas por séculos no mundo por todas as religiões podem ser cobertas por esta palavra “programação”. A palavra ou conceito surgiu, melhor, passou a ser usada com a criação do computador, que você precisa “programar”; ou seja, você pode por na “mente” do computador tudo que quiser, que ele armazena e, o mesmo, lhe dá respostas – sua capacidade de memória é fantástica.
Todos os livros que existem no mundo, em todas as bibliotecas, podem ser colocados num computador, sem necessidade de gastar tanto espaço. Em apenas um computador pode-se compilar todo o conhecimento de um povo e, você pode lhe fazer uma pergunta a qualquer momento, ou seja, qualquer pergunta absurda – se ele foi programado para o inusitado, esta programação será acionada e ele ativará sua pesquisa interna e lhe dará a resposta nua e crua. Numa exemplificação, digamos que alguém pergunte ao computador:- Que dia “Sócrates” se casou? Naturalmente, que se tal aconteceu, a humanidade não teria um dos maiores Pensadores, quiçá senão, um dos primeiros – mas, qual foi o dia? Se foi dado ao computador o dia, mês e ano, imediatamente a resposta virá; pois que em seu programa há aqueles dados.
Devido aos computadores ou ao surgimento dos mesmos, a palavra “programação” tomou implicações e significados imensos, descortinando-se novos parâmetros de relacionamentos e globalizando-se as informações comparativas, desmistificando-se crenças e religiões, banalizando-se culturas e tradições. Não por erros dos computadores, mas pelos sistemas dominantes e monopolizadores das informações que as querem em comando único.
O que fazemos com os computadores é o que as religiões têm feito com os seres humanos. Se alguém é hindu ou alguém é cristão, qual a diferença entre os dois? Simplesmente nenhuma como ser humano, somente que têm uma programação cultural diferente.
Vejamos numa exemplificação: se você educar desde o começo uma criança gerada de família cristã numa casa hindu, você acha que ela pensará em Jesus ou na Bíblia Sagrada? Será que ela fará perguntas, que as crianças cristãs fatalmente fazem? Em verdade, ela será hindu, porque seu programa cultural cotidiano é hindu. Ela nem ao menos perderá tempo com esse Jesus, porque sua programação estará em Krishna, Shiva, Buda, Gitã – dependendo da casta social em esta for colocada.
Enfim, todos os sistemas estão programando as crianças e mesmo os adultos, como se eles fossem computadores; ou seja, lhes dão informações genéricas e periféricas destruindo-se as essências familiares, de costumes, de tradições, de nacionalidade. E esse, é o grande insulto à humanidade e, o pior crime contra o ser humano; porque se lhe quebra ou, se lhe desconceitua os valores culturais milenarmente constituídos.
Sendo eu um espiritualista, que acredito nas reencarnações do ser neste ou em outro orbe do Universo, digo que toda criança ao nascer, emerge ao mundo como uma lousa em branco, na qual você começa a escrever ou rabiscar por toda ela símbolos e signos, ou métodos e conceitos, ou mitos e lendas, ou fábulas e crendices, ou heróis e deuses, ou Bíblia, ou Alcorão, ou Tora, ou Gitã, ou O Capital – ou, o que você quiser.
A pobre criança está em suas mãos e, ela ainda não sabe e não pode nem ao menos pensar que seus pais, que o amam tanto, dar-lhe-ão uma programação errada. E, quando ela crescer e ficar consciente da palavra “programação”, o programa já atingiu seus ossos, sua derme, sua medula central e, em seu espírito já deformado – acreditará que esta programação faz parte de seu DNA; então, ela não mais poderá pensar de outra maneira ou outra forma e, reproduzirá em seus futuros filhos, o que lhe foi enxertado ou plantado como programa de vida social, econômica, política e religiosa.
Há, porém, que se fazer um paralelo entre vida cultural e vida social, posto que se o indivíduo não tem identidade cultural, como poderá ele ter uma vida social? É dúbia está minha afirmação sobre esta questão, confesso que pode ter antagonismo. Porém, para mim, a vida cultural está na preservação de um conceito místico e moral de uma raça primária que buscamos em nossa busca interior na origem Universal; enquanto que, na vida social há somente reproduções de valores preconcebidos pelas convenções de determinada sociedade, em que o indivíduo tenha sido gerado. Mas, se não houver crítica, não há reflexão e, sem a reflexão não haverá o confronto das idéias e as buscas do conhecimento; portanto, contestem...
Você já parou para pensar, qual seria sua reação ou sua atitude ao perceber que desde criança, você foi programado dentro de um certo ‘rebanho’, no qual sente-se peixe fora d’água? Sim, porque se você tem o livre arbítrio re-encarnatório e, ao nascer és uma lousa em branco; à medida que vais adquirindo consciência de determinado padrão cultural nesta nova existência, lógico e evidente que você entre em choque com as informações que misticamente entrecruzam em seu íntimo. Ou seja, as famosas indagações que constantemente fazemos: ‘Quem sou?’, ‘Que faço eu neste mundo?’, ‘Será que nasci em época errada?’, ‘Você está pensando como um infiel, sendo cristão’. Enfim, que atitude tomaria, ao perceber que aquilo tudo que até então esteve estudando, captando foi puro desperdício? Se não pensou, comece!
Programar, desprogramar, reprogramar – essa parece ser a técnica psicológica da violência. Desprogramação profunda e liberdade para crescer, essas deveriam ser a demonstração máxima de respeito – na verdadeira Educação Religiosa. Criatividade cultural e livre pensar, como na escolástica de Sócrates, não seguindo nenhum método tradicional, ou estratégia convencional – mas reagindo a cada pessoa de acordo com a necessidade que tem – embora se conheçam todos os métodos; assim, ver-se-ia livre para transcendê-lo e criaria condições para que o indivíduo realizasse seu potencial, descobrisse seu caminho, ou seja, sendo sua própria Luz e fazendo florescer sua semente e deixando a posteridade sua herança cultural.
Você só pode pensar naquilo que está dentro de sua experiência psíquica; ou seja, na sua “programação mística ancestral”. Por isso afirmo que você não pode pensar neste ‘Céu’, incutido pelos “doutos” que se dizem responsáveis pela lei do Inominável; portanto, reafirmo meu conceito e indago: como alguém que nunca amou como o próprio Amor, ou nunca se permitiu apaixonar como ser na Natureza, ou nunca foi feliz por desconhecer a verdadeira Liberdade – pode pensar sobre aquilo que está além de sua “programação” cultural, social, econômica, política e religiosa?
Ora, você pode anelar por alguma coisa inexplicavelmente melhor – mas, que você mesmo não sabe o que é e, por experiência própria não sabe dizer se existe ou não. Pois tudo o que o ser humano pôde fazer até agora, foi sonhar e fantasiar e, nos seus sonhos e delírios mais loucos, projetou seus desejos, criou ficções e seus símbolos, que passaram de pais para filhos numa cadeia secular. E assim, símbolos, mitos foram organizados, conforme a cultura, o ambiente, a civilização; é o processo histórico de domínio e conseqüente imposição ou sincretismo de culturas, alicerçados pelos dominantes na subjugação dos povos conquistados. Hoje, porém, sua imaginação pode lhe oferecer vislumbres diferentes dessa simbologia, desses mitos e ficções, emprestadas dos livros apócrifos oficiais que você leu, ou ainda, de coisas que você ouviu e, que pela força de mais de quinze séculos de propaganda coercitiva, estão enraizadas na medula dos seus ossos como verdade absoluta. É isso tudo, uma verdadeira hipnose cultural.
E na arrogância do conhecimento emprestado, aspira-se a um ideal utópico pelo qual se luta, criando-se restrições, quer seja pelas limitações e fronteiras às crenças, ou à vontade e, ou à ação. Discrimina-se ou se submetem os contrários – como auto-afirmação de uma identidade que está cristalizada, ou cristalizando-se; nem que para isso precisemos usar a autoridade do conquistador, o autoritarismo do domínio, a força da imposição, a coação pelo extermínio – ou de qualquer outro modo a impor, ou a inserir no marginal (marginal é sempre aquele outro, que pensa, que decide, que escolhe ser diferente)
1 a nossa visão de mundo. Então, toda nossa assim chamada cultura, religião, certezas, segurança são tão finas, tão frágeis...; como que construídas do mesmo material que são feitos os sonhos – tênues.
E, neste meu raciocínio, é aí que entram os sacerdotes e os governos políticos...; ou seja, a máfia dos segregadores da alma ou do espírito humano..., os mercadores de sonhos e de promessas... Que transformam esta horda acéfala em marionetes, perdidos, confusos e manipulados; ou seja, numa multidão iludida, cheia de falsas esperanças – no futuro..., no além..., na vida. Que nem mesmo em seus piores pesadelos sonham para onde estão se dirigindo; ou melhor, estejam sendo conduzidas ou arrastadas, seja individualmente ou coletivamente.
Dizendo eles: vamos consumindo... Salve a ignorância! Mantenham essas massas ignóbeis, imersas na pobreza e na ignorância e, hasteemos a bandeira de nossa dominação ideológica... Pois, assim terão eles, uma arte desfigurada de valores distorcidos como: a beleza, o amor, a compaixão, a sensibilidade, a inteligência, a liberdade, a criatividade... Ou seja, tudo isso a serviço da inconsciência e delírios paranóicos dos que detêm o Poder (seja, econômico, político, religioso, cultural, etc).
Todos dizem que querem ser amados; e, esse é um começo errado. É errado porque a criança – a pequena criança não pode amar; porque somente sente, instintivamente, a proteção dos progenitores e, não pode dizer nada – pois não aprendeu ainda a linguagem usual e cultural daquela sociedade. Não pode fazer nada – porque sendo da espécie humana é carente fisiologicamente do instinto animal e, para sua sobrevivência necessita dos cuidados da parte adulta da espécie. Ela pode apenas receber a priori o amor progenitor, jamais dar esse amor que ela não compreende... Assim sendo, a primeira experiência de amor da criança – consiste apenas no receber...; ou seja, recebe o amor da mãe, do pai, dos irmãos, das irmãs, de hóspedes, de estranhos – mas sempre neste verbo: receber... Pois que, ainda não consegue verboralizar seus sentimentos, ou mesmo, sua compreensão sentimental dos afetos recebidos e sentido por seu espírito ora encarnado.
E, esta experiência se instala no fundo de seu inconsciente de que ela tem que receber amor. Então, o primeiro problema surge, porque todos fomos crianças e, todos trazem consigo a ânsia de serem amados; por isso, todos estão pedindo amor e, por esta ânsia comete-se qualquer sandice. E ninguém nasce diferente, por isso muitas vezes o pedido: “Dê-me amor”; e, não há ninguém que dê, porque o outro também foi educado do mesmo modo, ou seja, a não dar, mas sim, somente a receber amor.
Faço então uma pergunta indagadora: o que uma pessoa faz quando procura algo que lhe falta, e não encontra?
Responderia que, acho que ela busca compensação... Ou, que procura um substituto ou uma satisfação, a ponto de lhe permitir que esqueça a dor momentânea ou o sofrimento agudo que a primeira necessidade lhe impôs – porém, a constante predominante que marca o estado da mente infantil contínua, permanece enraizada.
Ela (a criança) quer sempre e sempre receber. Jamais se contentará com nada, nunca se satisfazendo e, quanto mais tem, mais sobe ou aumenta seu nível de exigência ou de seu querer metafórico.
Há aqui dois pontos em questão:
1) o estado imaturo da necessidade de receber ou de depender e,
2) o aumento ou crescimento do nível da exigência.
A princípio, a fome de receber é tão grande, que qualquer coisa serve; por isso que, a política de que “dinheiro não traz felicidade” é mantida pelos cleros e por governos. Pois, sem recursos ou privado de condições, o indivíduo precisará dedicar seu tempo à mera garantia da sobrevivência.
2Qualquer coisa serve também para a saúde – come-se qualquer coisa e a qualquer hora. Dorme-se em qualquer colchão, em qualquer lugar – com qualquer um... Respira-se de qualquer jeito, qualquer ar, em um lugar qualquer, acompanhado de qualquer um sem discriminação. Ouve-se qualquer coisa, desde que barulhenta – não importa ritmo, harmonia, quiçá melodia. Assiste-se a qualquer filme, documentário, novela, videoclipe, etc – desde que, o sistema seja retratado e alimentado de modo que a digestão cultural esteja longe de qualquer consideração. Qualquer coisa serve, nesta Estrutura Educativa Pública, ou mesmo, na tentativa individual de satisfazer a curiosidade ou de livra-se da ignorância; mas, para isso precisa-se estar preparado.***
***Entra em campo o segundo ponto, de que qualquer coisa não serve para aumentar o nível de exigência necessário à construção de uma individualidade forte, integral, compreensiva, saudável, rica, bela, criativa, inteligente. Para se exigir o melhor, é preciso conhecer a diferença..., ter condições e critérios de avaliação. Enquanto o receber, for base da atual educação, seja para pensar, seja para amar – a manipulação dos critérios de avaliação será sempre feita de cima para baixo, de fora para dentro; criando-se a dependência, a submissão, a escravidão, a violência. Devemos dar ênfase é na transcendência do receber, que é uma circunstância tão natural como o nascimento e, que não deveria ser tão primária como na infância, mas permanecendo como estado instintivo predominante na vida afora.
É importante buscar fora, ou o que se construiu antes – ou seja, uma estrutura de autonomia, de responsabilidade, de consciência, de atenção – dentro de si. É, necessariamente importante buscar fora, quando nos livramos dos compromissos do receber interno; nos amadurecendo para a necessidade do compartilhar, do dar – o que foi recebido, o que foi valorizado e o que foi transformado no nosso interior. Porém, não se busca coisa alguma fora, para compensar vazios internos – nem se busca de modo desesperado os substitutos para do Amor.
Experiências míticas, sensações de prazer, poder político ou religioso, fama ou sucesso, riquezas, culturas de saber, podem acontecer ou não como conseqüência natural; tais como, as sementes semeadas em solo fértil tornam-se flores na primavera, estas serão frutos de um crescimento original e não a essência da alienação dominante. Um equilíbrio será alcançado, operar-se-á um processo de cura e restauração; assim, será possível criar..., articular e a manifestar-se sem medo.
Será possível ainda, indicar os caminhos; isto sim é a Educação natural – isto sim, é o Amor do conhecimento de si, em toda sua plenitude e grandeza espiritual do saber universal...M’Penda Kazembe
1 A diferença deste outro marginal se constitui uma ameaça, pois embora já se tenham passado milênios, ou seja, mais de trinta séculos de aculturação e culturização... A civilização conquistadora, ou mesmo, conquistada parece ser de um material muito frágil.
2 Ficando ele privado de condições para, sequer, descobrir seu potencial interno – ou seja, do que gosta; ou ainda, de sequer discriminar, entre a sua preferência pessoal da preferência sugerida pelos meios publicitários – que lhes ditam como se deve vestir, como se deve comer, falar, pensar e até amar.