quinta-feira, 21 de maio de 2009

Meditação

Senhor, gostaria de ser um bonzo budista

que procura a libertação, respeita a natureza;

mas preciso de um Deus vivo.

Ou um brâmane-hindu

que vive a não violência;

mas eu combateria as castas

e comeria carne assada de vaca,

num domingo à tarde.

Gosto de Confúcio e do seu Zen,

a filosofia suprema do amor;

mas recuso-me a morrer para sempre.

Quero aprender com o islamita

a crer, fortemente, em Deus

a rezar, profundamente, cinco vezes por dia.

Mas por que não deixam as mulheres

rezar com eles, lado a lado?

As mulheres rezam muito bem.

Recordo o velho de Angola

aspergindo o chão debaixo do embondeiro,

com sangue de bode, ainda quente.

Não ri. Fui vencido por sua fé no Grande Espírito.

Rezei com ele a oração que ele não sabe:

“não nos deixes cair na tentação,

mas livra-nos do mal”.

Quando eu lhe disser que o Grande Espírito é Pai,

ele rirá eternamente.

Quero ser hebreu.

Mas como Paulo, José, Maria...

Não sei esperar um Futuro

que já vive nos homens.

Luz, Senhor, para nossos avós, cegos.

E obrigado porque nos mandaste Cristo,

a Luz, o Sábio, o Profeta, o Grande Espírito,

o Messias, o Irmão.

Manuel Rouxinol (Marília/SP – 1975)

Definitivo, como tudo o que é simples.


Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de termos tido juntos e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade...

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.

O sofrimento é opcional...

Carlos Drummond de Andrade

Meus olhos, espelhos de minha alma...


Olhe em meus olhos...

Sou sempre um livro aberto... Nada sei da vida... Mas, sempre sou amigo do saber...

Um ferrenho inimigo do desamor... Porém, um amante da lua...

Um eterno apaixonado, este sou eu... Sem meias palavras, comigo somente palavras inteiras... Sei que sou amado por poucos... Odiado ou invejado por outros? Sei lá não me preocupo com isso... Duvidas?... Queres saber se ligo? Nem um pouco!

Amo quem me ama, e muito... Aos que não me conhecem, este sou... Simples...

Amando e vivendo... Errando e aprendendo... Crescendo... Chorando... Sorrindo...

Meu destino vou traçando, e fazendo acontecer... Nunca fui Anjo, porque sou antes de tudo sou humano... Mas, sei lá... Sou assim... Simples assim...

Apaixonado por minha alma metade, que nunca encontrei...

Em meu coração baila uma valsa...

Rodopia uma dama numa dança cigana...

Um amor pulsante...

Aqui estou...

Este sou...

Eu sou assim... simples assim...