Senhor, gostaria de ser um bonzo budista
que procura a libertação, respeita a natureza;
mas preciso de um Deus vivo.
Ou um brâmane-hindu
que vive a não violência;
mas eu combateria as castas
e comeria carne assada de vaca,
num domingo à tarde.
Gosto de Confúcio e do seu Zen,
a filosofia suprema do amor;
mas recuso-me a morrer para sempre.
Quero aprender com o islamita
a crer, fortemente, em Deus
a rezar, profundamente, cinco vezes por dia.
Mas por que não deixam as mulheres
rezar com eles, lado a lado?
As mulheres rezam muito bem.
Recordo o velho de Angola
aspergindo o chão debaixo do embondeiro,
com sangue de bode, ainda quente.
Não ri. Fui vencido por sua fé no Grande Espírito.
Rezei com ele a oração que ele não sabe:
“não nos deixes cair na tentação,
mas livra-nos do mal”.
Quando eu lhe disser que o Grande Espírito é Pai,
ele rirá eternamente.
Quero ser hebreu.
Mas como Paulo, José, Maria...
Não sei esperar um Futuro
que já vive nos homens.
Luz, Senhor, para nossos avós, cegos.
E obrigado porque nos mandaste Cristo,
a Luz, o Sábio, o Profeta, o Grande Espírito,
o Messias, o Irmão.
Manuel Rouxinol (Marília/SP – 1975)
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